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Lula faz apelo ao Japão por acordo com o Mercosul diante do protecionismo de Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, nesta quarta-feira (26), em Tóquio a aceleração do processo para um acordo econômico entre o Mercosul e o Japão, após a onda de tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump.
"Estou seguro de que precisamos avançar com a assinatura de um acordo de parceria econômica entre Japão e Mercosul", bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, declarou Lula em uma cerimônia ao lado do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba.
"Nossos países têm mais a ganhar pela integração do que pelo recurso de práticas protecionistas", acrescentou o presidente do Brasil.
Em uma declaração após o evento, Lula disse que espera "iniciar negociações com o Japão durante a presidência brasileira do Mercosul", no segundo semestre do ano.
Ishiba declarou que "Japão e Brasil exercerão sua liderança para estabelecer em breve a aliança estratégica Japão-Mercosul".
O premiê japonês destacou que "círculos empresariais dos dois países acabam de nos pedir que alcancemos rapidamente um AAE Japão-Mercosul", uma referência a um Acordo de Associação Econômica, mais amplo que um tratado de livre comércio.
Um documento da Federação Empresarial Japonesa Keidanren enfatiza que Japão e Mercosul têm uma "relação mutuamente complementar e são parceiros econômicos estrategicamente vitais". O texto pede a adoção do AAE para aprofundar a relação.
O comércio é o centro da visita de Lula ao Japão, diante da decisão de Trump de impor tarifas sobre grande parte das importações feitas pelos Estados Unidos.
"Nós não podemos voltar a defender o protecionismo. Nós não queremos uma segunda Guerra Fria. O que nós queremos é comércio livre para que a gente possa definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento o econômico e na distribuição de riqueza", afirmou Lula.
Lula visita o Japão com uma delegação de ministros, congressistas, empresários e sindicalistas.
O presidente acrescentou que Brasil e Japão enfrentam o desafio de recuperar seu comércio bilateral, que caiu de 17 bilhões de dólares (R$ 96 bilhões) em 2011 para US$ 11 bilhões (R$ 62 bilhões) em 2024.
Depois de destacar a força econômica do país, Lula convidou "os japoneses a investir no Brasil, porque é um porto seguro".
- "COP mais importante" -
Durante a visita, os países confirmaram a venda de até 100 aviões E-190 da Embraer para a companhia aérea japonesa ANA.
Além disso, os dois países concordaram em cooperar na produção de biocombustíveis, um campo no qual o Brasil é pioneiro, para ajudar o Japão a aumentar o percentual de etanol em seus combustíveis a até 10% em 2030 e até 20% em 2040, segundo o plano estratégico de energia do país.
"Ao aproveitar as vantagens de nossas forças mútuas - os biocombustíveis do Brasil e a mobilidade de alta qualidade do Japão - concordamos em liderar os esforços de descarbonização da indústria automotiva mundial", afirmou Ishiba.
"A descarbonização não é uma escolha, é uma necessidade e grande oportunidade", disse Lula.
A cooperação em biocombustíveis é parte do conjunto de 10 acordos de cooperação bilateral e mais de 80 instrumentos entre empresas, bancos e universidades assinados entre os dois países.
A questão ambiental também foi abordada nas discussões em Tóquio, diante da proximidade da conferência do clima COP30 que acontecerá em novembro na cidade de Belém.
"Nós iremos realizar a COP mais importante de todas as COPs realizadas, com muita responsabilidade, com muita serenidade, com menos ufanismo e com mais debate sério", completou.
Ao comentar o tema, Ishiba afirmou que "o Brasil, que preside a COP30 deste ano, é um parceiro confiável na luta contra as mudanças climáticas. Os excelentes biocombustíveis brasileiros e a mobilidade de alto desempenho japonesa são uma combinação chave para a neutralidade de carbono".
Sem mencionar Trump, Lula criticou os governantes que questionam os compromissos climáticos mundiais, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris.
Também questionou a falta de cumprimento do Acordo de Copenhague de 2009, "porque os países ricos se comprometeram a dar 100 bilhões de dólares por ano para que a gente pudesse manter as florestas em pé e isso não foi cumprido até agora".
Lula prometeu "zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e reforçar o combate a todos os tipos de ilícitos transnacionais" na região.
No início do discurso, Lula admitiu que estava "triste" com a goleada sofrida pela seleção do Brasil (4-1) para a Argentina nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
P.M.Smith--AMWN