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Ninguém se salva da caça aos migrantes empreendida por Trump nos EUA
Franco Caraballo foi detido durante um processo migratório. Shirly Guardado, presa em seu trabalho e Camila Muñoz ao voltar de sua lua de mel. Ninguém está a salvo da caça aos imigrantes nos Estados Unidos.
O presidente Donald Trump afirma que prende criminosos. Mas familiares de vários presos rejeitam tais acusações.
Em um posto de controle nas rodovias do Texas, agentes de imigração prenderam um casal mexicano em situação irregular que se dirigia a um hospital em Houston para o tratamento de câncer de sua filha de 10 anos.
Grande parte dessa família - com cinco de seus filhos americanos - foi deportada, segundo informou a ONG Texas Civil Rights Project.
"Devemos decidir entre nos separar de nossos filhos ou sermos deportados juntos. Agora estamos no México sem acesso a cuidados médicos de urgência dos quais a nossa filha precisa", disse a mãe, sob condição de anonimato.
Segundo o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas - a temida ICE pelos migrantes - a administração Trump prendeu em seus primeiros 50 dias de gestão 32.809 migrantes, dos quais quase a metade eram criminosos.
E, em 16 de março, deportou mais de 200 para uma prisão de El Salvador, sob uma lei de guerra do século XVIII, acusando-os de pertencer à gangue Tren de Aragua.
- "Não fiz nada" -
Franco, barbeiro venezuelano de 26 anos e em processo de asilo desde 2023, foi a uma reunião que tinha no escritório da ICE em Dallas, Texas, em fevereiro. Não saiu mais.
"Não fiz nada, sou uma pessoa boa", disse ele por telefone à sua esposa Johanny Sánchez, venezuelana de 22 anos, que teve que dormir em um carro por falta de recursos.
Franco contou a ela que o vestiram com um uniforme vermelho, que diferencia os migrantes perigoso. No dia anterior à sua deportação ela não teve mais notícias dele.
- As tatuagens -
"Meu advogado falou com a ICE e disseram a ele que Franco foi deportado [para El Salvador], que não tinha ficha criminal, mas que suspeitam que era membro do Tren de Aragua, por suas tatuagens", explica Johanny.
Franco tem tatuado um relógio com a hora de nascimento de sua primeira filha e uma rosa.
O venezuelano Mervin Yamarte, de 29 anos, foi reconhecido por sua família em Dallas em um vídeo divulgado pelo presidente salvadorenho, Nayib Bukele, com a chegada de deportados. Preso uma semana antes, trabalhava com mecânica e jogava futebol com a camisa 99, número que tem tatuado em uma das mãos.
Jhon Chacín, tatuador venezuelano de 35 anos, se entregou formalmente na fronteira em outubro de 2024, durante o governo de Joe Biden.
Mas ficou preso por suas tatuagens. Meio ano depois, o governo Trump o enviou a El Salvador sem provas contra ele, explica sua irmã Yuliana em Dallas.
- Votou em Trump -
Camila Muñoz, peruana de 26 anos, foi presa em fevereiro em um aeroporto de Porto Rico, território americano, quando voltava ao Wisconsin após sua viagem de lua de mel com Bradley Bartell.
Embora seu visto estivesse vencido, já havia iniciado o processo para conseguir residência. Está presa na Louisiana. "Ainda estou um pouco em choque", confessa seu marido.
Bradley votou em Trump. "Não diria que me arrependo, reclamo do sistema. Trump demora dois meses e o sistema demora muito mais. Lhe pediria que consertasse o sistema judicial", afirma.
Para o advogado de migração David Rozas, que assessora Bartell, o que está ocorrendo "é o mais aterrorizante" que já viveu em suas duas décadas de carreira.
"Os migrantes têm sido a coluna vertebral desse país. E o fato de que vão deportar quem realiza os trabalhos que os americanos decidiram não realizar, faz com que as pessoas se sintam muito traídas", diz.
- "Ela não é uma criminosa" -
Shirly Guardado, hondurenha de 27 anos, estava em seu posto de trabalho perto de Houston, Texas, quando agentes de migração a levaram por supostamente estar envolvida em um acidente de trânsito.
"Ela não é uma criminosa. É minha esposa. É a mãe do meu filho. Sempre respeitou as regras, não tem nem uma multa de trânsito. É uma cidadã exemplar que admiro", explica seu marido, Ayssac Correa, de 25 anos, sargento do Exército americano.
Shirly entrou no país irregularmente há uma década, mas após se casar com Ayssac há três anos iniciou o processo para sua permanência legal.
Sem ela em sua casa em Spring, Texas, Ayssac cuida do filho dos dois, de 10 meses. "Não dorme tão bem porque está acostumado a dormir no berço ao lado da minha esposa e de mim", conta.
"Pode ser que a libertem. Mas tenho que me preparar para caso a deportem", explica Ayssac. Se isso ocorrer, iniciariam um longo processo para que ela voltasse legalmente. "Durante esses três ou cinco anos, meu filho não teria sua mãe".
O.Norris--AMWN