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ONGs estão prontas para levar ajuda humanitária a Gaza, embora temam obstáculos
O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas gera a esperança de que a ajuda chegue aos palestinos em Gaza, mas as organizações humanitárias temem o aparecimento de muitos obstáculos.
Centenas de caminhões aguardam do lado egípcio da fronteira com o território palestino e o Ministério das Relações Exteriores egípcio defendeu, na quinta-feira, uma distribuição rápida da ajuda humanitária.
O chefe de relações humanitárias das Nações Unidas, Tom Fletcher, qualificou esta trégua entre Israel e Hamas como um "momento de esperança e oportunidade", mas acrescentou que "não se deve criar ilusões sobre as dificuldades para fornecer ajuda aos sobreviventes" na Faixa de Gaza.
Neste território densamente povoado, onde quase 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo menos uma vez pela guerra, os trabalhadores humanitários temem que a ajuda não seja suficiente para atender às necessidades da população.
"Tudo foi destruído, as crianças estão nas ruas, não podemos nos contentar com uma única prioridade", declarou à AFP Amande Bazerolle, coordenadora da organização Médicos sem Fronteiras (MSF), falando por telefone de Gaza.
"Todo mundo está esgotado, inclusive os trabalhadores humanitários locais, que trabalham sem descanso há 15 meses, quando não acabaram sendo deslocados", ressaltou, em Khan Yunis, Mohamed Jatib, diretor-adjunto de operações da organização Medical Aid for Palestine em Gaza.
Nos refúgios improvisados instalados em escolas, casas bombardeadas e cemitérios, centenas de milhares de pessoas não têm "lonas de plástico" para se proteger das intempéries, disse à AFP Gavin Kelleher, do Conselho norueguês para os Refugiados (CNR).
Sua organização terá que se concentrar especialmente no fornecimento de "lonas, cordas e equipamentos para tapar os buracos" nos abrigos. "Ao menos até deixarmos de ver crianças morrendo de hipotermia", declarou, falando de Gaza.
Na semana passada, a hipotermia matou ao menos oito pessoas, quatro delas recém-nascidos, três bebês e um adulto, no centro e no sul de Gaza, segundo um balanço do ministério da Saúde do Hamas, usado pela Organização Mundial da Saúde.
- Aumentar a ajuda "não é tecnicamente realizável" -
O veículo de comunicação egípcio Al-Qahera reportou, na quarta-feira, que há esforços em curso para reabrir a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, fechada em maio, quando as forças israelenses tomaram o controle do lado palestino.
Os Emirados Árabes Unidos já enviaram material médico para mais de 600 mil pessoas e o Programa Alimentar Mundial declarou, na quinta, que tem comida suficiente para um milhão de pessoas.
Do lado egípcio, "entre 700 e 1 mil caminhões" esperam, declarou à AFP uma fonte da organização Crescente Vermelho egípcio.
Mas, diante dos incessantes bombardeios israelenses, os trabalhadores humanitários são céticos.
Segundo Bazerolle, a promessa de 600 caminhões diários, ou seja, mais que o nível de antes da guerra, "não é realizável tecnicamente".
"Desde que Rafah foi destruída, as infraestruturas não estão em condições de garantir o nível logístico", assinalou.
A ajuda que chega a Gaza costuma ser saqueada por grupos armados civis desesperados. "Os israelenses tiveram como alvo a polícia e, portanto, não há mais ninguém para proteger as cargas", ressaltou Bazerolle.
Por sua vez, o representante da OMS nos territórios palestinos, Rik Peeperkorn, afirmou, em Jerusalém, que é preciso que os profissionais de saúde de Gaza possam trabalhar e se necessita contratar outros.
"Além disso, consideramos que 12 mil pacientes em estado crítico devem ser evacuados, restabelecendo o corredor médico tradicional para Israel e Cisjordânia, mas também para o Egito, a Jordânia e outras partes", ressaltou.
- "Encerramos um capítulo de sofrimento" -
A situação é ainda mais desastrosa no norte de Gaza, onde organizações humanitárias afirmam que Israel rejeitou quase todas as suas demandas de entrada e onde 10 mil pessoas seguem bloqueadas.
Segundo Bazerolle, a MSF espera enviar para lá equipes "para ter acesso pelo menos aos pacientes onde eles se encontram".
De acordo com a OMS, um único hospital no norte de Gaza funciona parcialmente, o de Al Awda, que foi alvo frequente de ataques.
Mas a maioria das centenas de milhares de deslocados do norte de Gaza esperam voltar, inclusive Jatib, que antecipa um "deslocamento maciço da população" se a trégua for concretizada.
"Sabemos que o sofrimento vai continuar, encerramos um capítulo de sofrimento e abrimos outro, mas pelo menos há esperança de que cesse o banho de sangue", disse Jatib à AFP.
F.Schneider--AMWN