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Catar e EUA anunciam acordo por cessar-fogo em Gaza e libertação de reféns
Catar e Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (15) um acordo de trégua entre Israel e Hamas em Gaza, que inclui a libertação de reféns nas mãos do movimento islamista palestino, após mais de 15 meses de uma guerra que deixou dezenas de milhares de mortos.
Após o anúncio do acordo, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, destacou que ainda restavam questões "a serem resolvidas", mas que esperava fechar os pontos pendentes "esta noite".
O primeiro-ministro de Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, afirmou em uma coletiva de imprensa que o acordo entrará em vigor no domingo.
"Foi concluído um acordo" entre Israel e Hamas "para um cessar-fogo" em Gaza e um "intercâmbio de reféns e prisioneiros", anunciou.
O líder catariano disse esperar que a trégua se tornasse "permanente" e deu detalhes sobre a primeira fase do pacto, que durará 42 dias.
"O Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis [...], crianças, pessoas idosas, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses", explicou.
"Os detalhes sobre as fases dois e três serão definidos durante a implementação da primeira fase", acrescentou.
Em Tel Aviv, manifestantes que pediam a libertação de reféns se abraçaram assim que souberam da notícia. Na Faixa de Gaza, milhares de palestinos celebraram o pacto, que deve pôr fim aos bombardeios que devastaram quase todo o território.
"Não posso acreditar que este pesadelo de mais de um ano esteja chegando ao fim. Perdemos tantas pessoas, perdemos tudo", disse Randa Sameeh, uma mulher de 45 anos, deslocada da Cidade de Gaza para o campo de refugiados de Nuseirat, no centro da faixa.
O Hamas, que governa o território sitiado, afirmou que o acordo foi fruto da "tenacidade" do povo palestino e da "corajosa resistência" do movimento islamista.
"Não esqueceremos e não perdoaremos" o sofrimento da população durante a guerra, sublinhou o principal negociador do grupo palestino, Jalil al Hayya. Quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito e o cerco israelense provocou uma grave crise humanitária na faixa.
A pressão aumentou nos últimos dias para pôr fim aos combates, e tanto o Egito, os Estados Unidos quanto Catar, os três mediadores, intensificaram os esforços para alcançar um acordo. O anúncio ocorre a menos de uma semana da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
- Trump comemora acordo "épico" -
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que estava "empolgado" e que o acordo "irá deter os combates em Gaza, proporcionará a tão necessária ajuda humanitária aos civis palestinos e reunirá os reféns com suas famílias".
A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, após o ataque de Hamas no sul de Israel, no qual os comandos islamistas mataram 1.210 pessoas, na sua maioria civis, e sequestraram outras 251, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.
Dos sequestrados, 97 ainda estão cativos em Gaza, mas o exército israelense estima que 34 deles morreram.
Após o ataque, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza que matou pelo menos 46.707 pessoas, principalmente civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis.
Desde o início da guerra, apenas uma trégua de uma semana havia sido alcançada, no final de novembro de 2023. E as negociações indiretas estavam em ponto morto desde então.
Trump advertiu nos últimos dias que a região viraria um "inferno" se os reféns não fossem liberados antes de sua chegada ao poder.
"Este acordo de cessar-fogo ÉPICO só poderia ter acontecido como resultado de nossa histórica vitória em novembro", escreveu o republicano em sua rede Truth Social.
Enviados tanto de sua administração futura quanto da administração Biden estiveram presentes nas últimas negociações.
"Continuaremos trabalhando de forma estreita com Israel e com nossos aliados para garantir que Gaza NUNCA se torne um santuário terrorista", acrescentou o presidente eleito.
- Ajuda humanitária -
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, aplaudiu o acordo e destacou a "importância de acelerar a entrada de ajuda humanitária de emergência para a população de Gaza".
Pouco após o anúncio, começaram as negociações para reabrir o posto de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, informou o meio egípcio Al-Qahera News, próximo aos serviços de inteligência, que citou uma fonte de segurança.
O posto fronteiriço, por onde passa parte da ajuda humanitária, está fechado desde maio, quando o Exército israelense se apoderou da área e fechou o lado palestino do posto.
"É imperativo que este cessar-fogo elimine os importantes obstáculos políticos e de segurança que dificultam a entrega de ajuda em Gaza", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Tanto a permanência do cessar-fogo quanto a retirada das tropas israelenses e a quantidade de ajuda humanitária que deve entrar em Gaza representaram obstáculos nas negociações.
Israel, que prometeu destruir o Hamas após o ataque de 7 de outubro, rejeita uma retirada total do território e se opõe a que seja administrado pelo Hamas ou pela Autoridade Palestina.
Os palestinos, por sua vez, afirmam que o futuro de Gaza lhes pertence e que não tolerarão qualquer ingerência estrangeira.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, propôs na terça-feira enviar uma força internacional de segurança para Gaza e colocar o território sob responsabilidade da ONU.
Y.Kobayashi--AMWN