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Canal do Panamá celebra 25 anos em mãos panamenhas com homenagens a Jimmy Carter
O Canal do Panamá celebrou, nesta terça-feira (31), 25 anos em mãos panamenhas, em uma cerimônia solene em que o falecido ex-presidente americano Jimmy Carter foi lembrado e as ameaças de Donald Trump de recuperar a hidrovia interoceânica foram ignoradas.
A cerimônia, realizada no jardim da sede da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), próximo ao canal, contou com a presença do presidente panamenho, José Raúl Mulino, e de centenas de convidados, incluindo a ex-presidente Mireya Moscoso, que simbolicamente recebeu o canal das mãos de Carter em 31 de dezembro de 1999.
"Hoje sentimos a mesma emoção" que há 25 anos, disse à AFP Moscoso, que lembrou que, após assinar os documentos de entrega do canal, Carter lhe disse "it’s yours" (é seu), e ela começou a chorar.
Mulino declarou em discurso que estava feliz pelos 25 anos de soberania panamenha no Canal, mas acrescentou que "uma tristeza [...] nos invade devido à morte de Jimmy Carter", que morreu no domingo aos 100 anos.
Em memória do ex-presidente americano, ganhador do Nobel da Paz em 2002, foi observado um minuto de silêncio na cerimônia.
Carter e o líder nacionalista panamenho Omar Torrijos assinaram os tratados de transferência do canal em Washington em 1977.
"Com a assinatura dos tratados Torrijos-Carter, os panamenhos comprometeram-se como nação com uma operação segura do canal, aberto ao trânsito pacífico para navios de todas as nações, em tempos de paz ou de guerra, e sem qualquer discriminação", disse o chefe do ACP, Ricaurte Vásquez.
"25 anos, os panamenhos e seu canal! Conseguimos!", exclamou em seu discurso.
- "O sonho acabou" -
O canal de 80 quilômetros, construído pelos Estados Unidos, foi inaugurado em 1914.
Para protegê-lo, Washington estabeleceu um enclave onde tremulava a bandeira americana e tinha bases militares, policiais e judiciais próprias.
"O Panamá sempre terá gratidão [a Carter] por ter decidido, junto com meu pai, por meio dos Tratados Torrijos-Carter, a devolução do canal e o desmantelamento da colônia, fazendo justiça histórica ao Panamá", escreveu o ex-presidente panamenho Martín Torrijos (2004-2009), filho do general, no Instagram.
Vivia-se "bem" no enclave americano porque "tínhamos todos os privilégios, com hospitais, escolas e segurança própria", contou à AFP Bert Hammond, que nasceu há 65 anos na antiga área do Canal.
Embora "tenha gente que queira que os gringos voltem", o canal "é panamenho e ponto, o sonho acabou", acrescentou por telefone de sua casa em Oklahoma.
A presença americana gerou décadas de reivindicações panamenhas pelo controle da via.
Na cerimônia desta terça-feira, também foram homenageados cerca de 20 de panamenhos mortos em 1964, depois que alguns estudantes tentaram içar uma bandeira nacional na antiga área do Canal, então um enclave americano criado para proteger a via que conecta os oceanos Pacífico e Atlântico.
- Trump e seca -
Nem Mulino nem os outros oradores mencionaram as ameaças de Trump nos seus discursos.
O presidente eleito dos Estados Unidos disse que o seu país deveria "retomar o controle" do canal por causa das "tarifas ridículas" que o Panamá cobra para passar por ele.
"Qualquer tentativa de retroceder ou violar nossa soberania receberá a condenação e o repúdio de todos os panamenhos", declarou o ex-presidente Torrijos à AFP.
Além de Trump, o canal enfrenta outra ameaça: uma seca que obrigou a redução do número de navios que transitam pela via no fim de 2023. O canal panamenho opera com água doce (de chuvas), ao contrário do canal de Suez no Egito.
Embora a situação hídrica tenha se normalizado desde o início da temporada de chuvas em maio, é necessário um investimento bilionário para desviar águas de um rio a fim de garantir o fornecimento de água para o canal.
"O Canal do Panamá é muito mais que uma infraestrutura estratégica", é o motor da economia nacional, destacou o ministro do Canal, José Ramón Icaza, que afirmou ainda que a rota é "uma maravilha do mundo".
A via interoceânica movimenta 5% do comércio marítimo mundial, contribui com 6% do PIB do Panamá e 20% de suas receitas fiscais.
A.Jones--AMWN