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Wolfgang Schäuble, ex-ministro alemão das Finanças e paladino da austeridade, morre aos 81 anos
Wolfgang Schäuble, ex-ministro das Finanças da Alemanha, defensor ferrenho do rigor fiscal durante a crise da dívida na zona do euro e figura central na política do seu país durante décadas, morreu aos 81 anos.
O conservador, deputado durante mais de 50 anos e integrante da CDU, partido que presidiu no fim dos anos 1990, faleceu na terça-feira (26) à noite, depois de lutar por vários anos contra um câncer, informou o jornal Bild.
Paraplégico após um atentado em 1990, ele foi um dos protagonistas da política alemã nas últimas três décadas e encerrou sua longa carreira como presidente da Câmara dos Deputados entre 2017 e 2021.
A partir de 1984 ele foi ministro em vários momentos, em particular das pastas do Interior e das Finanças, primeiro com o chanceler Helmut Kohl e depois com Angela Merkel.
"Wolfgang Schäuble influenciou nosso país durante mais de meio século, como deputado, como ministro e como presidente do Bundestag. A Alemanha perde um pensador agudo, um político apaixonado e um democrata combativo", escreveu o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, na rede social X.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, elogiou "um dos dirigentes europeus mais influentes de sua geração".
- Intransigente com o sul da Europa -
O político de linha conservadora, que usava uma cadeira de rodas para os deslocamentos, trabalhou a favor do tratado de reunificação das duas Alemanhas em 1990, após a queda do Muro de Berlim.
Schäuble se tornou muito conhecido por seu papel como ministro das Finanças de Merkel, a partir de 2009. No cargo, ele incorporou o rigor fiscal defendido por Berlim e adotou um tom intransigente em relação aos países afetados pela crise da dívida da zona do euro, incluindo Grécia e Espanha.
Ele fez muitos inimigos na Grécia com sua inflexibilidade na exigência de cortes dos gastos públicos e dos salários, assim como da privatização de ativos, para remediar uma crise da dívida que provocou o empobrecimento da população e a queda de 25% do PIB grego.
Em 2015, Schäuble chegou a propor uma saída de Atenas da zona do euro.
A notícia de sua morte gerou comentários nada elogiosos na Grécia. O ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, ex-integrante do partido de extrema-esquerda Syriza, que negociou com Schäuble em 2015, o criticou por ter defendido uma "austeridade violenta".
Schäuble desempenhou um papel duro sem hesitação e não titubeava em dar sermões nos países vizinhos, em um tom moralizante, sobre seus "deveres". A atitude também foi aplicada em sua gestão dentro da Alemanha, com ojeriza à ideia de qualquer possibilidade de déficit.
- Amigo da França -
Nascido em Freiburg, na fronteira com a França, o conservador foi um defensor incansável da aliança com a França e da construção europeia.
No final da década de 1990, Wolfgang Schäuble apresentou a ideia de um "núcleo duro" de Estados pioneiros, que poderiam avançar de maneira mais rápida com a integração europeia. A ideia foi materializada com a criação da moeda única, o euro.
Ele também criticava os partidos nos extremos do espectro político. Na eleição presidencial francesa de 2017 ele declarou apoio ao liberal Emmanuel Macron, que disputou o segundo turno contra a líder de ultradireita Marine Le Pen.
A grande frustração de sua carreira foi não ter sido chefe de Governo. Apesar de ter sido cotado no final da década de 1990 para suceder Helmut Kohl como chanceler, ele foi superado por Angela Merkel após um caso de financiamento ilegal que afetou o partido.
D.Kaufman--AMWN