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"Não há lugar seguro", afirmam os deslocados em Gaza
Com os poucos pertences empilhados em uma cadeeira de rodas ou em uma carroça, milhares de palestinos fugiram na sexta-feira (22) do centro da Faixa de Gaza para o sul do território para escapar dos bombardeios israelenses, que afirmam ser incessantes.
Muitos deslocados procuraram abrigo nos últimos dias no campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza, em busca de um local seguro depois que foram obrigados a fugir diversas vezes desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, em 7 de outubro.
Para a nova fuga, alguns usaram carroças puxadas por burros com seus pertences, famílias escaparam com seus bebês em carros e outros ajudavam parentes idosos a caminhar no meio da multidão, protegidos por cobertores para enfrentar o inverno.
"Isto não é vida: sem água, comida, nada", lamentou Wala al Medini, uma mulher que foi ferida em um bombardeio em sua casa na Cidade de Gaza e fugiu em uma cadeira de rodas.
"Minha filha morreu no meu colo e eu fui resgatada dos escombros depois de três horas", disse. "Nossa casa e tudo ao seu redor foram destruídos".
Ela contou que não consegue dormir bem há 40 dias.
"Minha mensagem para o mundo é que olhem para nós, que nos vejam, que vejam que estamos morrendo. Por que não prestam atenção?", questiona.
O Exército israelense emitiu na sexta-feira uma ordem de evacuação do campo de Bureij e ordenou que os moradores seguissem para Deir al Balah, ao sul.
- "Isto está errado" -
Os bombardeios e a ofensiva terrestre de Israel provocaram o deslocamento de 1,9 milhão de moradores de Gaza, segundo os números da ONU, mais de 75% da população deste pequeno território de 362 quilômetros quadrados.
Apenas nove dos 36 hospitais de Gaza estão em funcionamento, mas de forma parcial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No hospital Aqsa, no centro de Gaza, os funcionários procuram espaço para os pacientes que chegam em macas procedentes de outro campo de refugiados, em Al Maghazi.
No centro de saúde lotado, os médicos atendem uma criança ferida no chão. Um bebê com sangue na testa grita em um berço colocado no chão.
Em alguns pontos da Cidade de Gaza são registrados confrontos nas ruas entre soldados israelenses e combatentes do Hamas.
A guerra começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o território israelense e executaram um ataque extremamente violento, com quase 1.140 pessoas assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades israelenses.
No mesmo dia, os milicianos do Hamas também sequestraram quase 250 pessoas.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista palestino e iniciou uma campanha de bombardeios, seguida, a partir do fim de outubro, de uma ofensiva terrestre em Gaza.
O Hamas, que governa o território, afirma que os ataques deixaram mais de 20.000 mortos, a maioria mulheres e menores de idade.
Em meio à destruição, os deslocados buscaram refúgio em abrigos ou barracas, enquanto enfrentam dificuldades para encontrar alimentos, combustível, água e medicamentos.
No campo de Bureij, Salem Yusef contou que depois de fugir da Cidade de Gaza ele se refugiou no hospital Al Shifa e, em seguida, passou um mês e meio no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do território.
Ele reluta em seguir a fuga para Rafah.
Israel anunciou que os moradores de Gaza devem buscar refúgio em setores do território estreito que afirma que são seguros, mas os bombardeios continuam atingindo estas áreas.
"Eles dizem que é seguro, mas não há lugar seguro", afirmou Yusef.
O palestino tem a esperança de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "interrompa os crimes e os massacres de inocentes e pare de reivindicar que atingiu posições (das Brigadas Ezzedin al Qasam, braço armado do Hamas) quando nem consegue alcançá-las".
"Também espero que pare de matar crianças inocentes e de destruir casas", disse.
"Isto está errado, tudo o que Netanyahu faz é errado", concluiu.
D.Moore--AMWN