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Principal hospital de Gaza, sitiado, enterra seus mortos em vala comum
O principal hospital de Gaza, no centro dos combates entre Israel e o Hamas, enterrou dezenas de mortos em uma vala comum, anunciou nesta terça-feira (14) o seu diretor, e milhares de civis permanecem presos no complexo em condições desastrosas, sem água nem eletricidade.
Os tanques israelenses estão a poucos metros da entrada do hospital Al Shifa. Segundo Israel, este centro médico esconde uma posição de comando estratégica para o Hamas, acusação que o movimento islamista palestino nega.
A ONU acredita que milhares de pessoas estão dentro do hospital, talvez até 10 mil, entre pacientes, funcionários e deslocados, sem possibilidade de fuga devido aos combates.
"Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as salas refrigeradas dos necrotérios não têm mais energia elétrica", afirmou o diretor do hospital, Mohamad Abu Salmiya, em referência à escassez na Faixa de Gaza provocada pela guerra e o cerco imposto por Israel desde 9 de outubro.
"Fomos forçados a enterrá-los em uma vala comum", disse o médico.
Uma testemunha dentro do centro médico disse que o odor dos corpos em decomposição é insuportável.
Israel afirma que o hospital não é um dos alvos da sua ofensiva iniciada em Gaza para "aniquilar" o Hamas, em resposta ao ataque lançado pelos comandos do movimento palestino em território israelense que deixou 1.200 mortos e quase 240 reféns, segundo as autoridades.
Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirmou que 11.240 pessoas morreram nos ataques de Israel, incluindo 4.630 crianças.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou da situação no hospital Al Shifa, que tem chamado a atenção internacional para o conflito.
"O hospital deve ser protegido”, disse Biden na segunda-feira, em meio à crescente indignação com as mortes de civis em Gaza.
- "Somos civis" -
A comoção gerada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro e a indignação com a resposta de Israel em Gaza mobilizaram centenas de milhares de pessoas que protestaram no Oriente Médio, na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.
Confrontado com a crescente pressão internacional, Israel concordou em estabelecer pausas diárias e "corredores" humanitários para permitir a fuga dos civis encurralados pelos combates.
Mas as autoridades israelenses insistem que não haverá cessar-fogo até a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.
A travessia para escapar dos combates é um caminho perigoso e os palestinos feridos disseram à AFP que, durante a fuga para o sul de Gaza, sofreram um bombardeio.
"Caminhei cerca de três ou quatro quilômetros enquanto sangrava", contou Hasan Baker.
"Somos civis, estamos nos deslocando de um lugar para o outro seguindo as instruções da ocupação" de Israel, afirmou.
- Israel confirma morte de refém -
A situação dos reféns levados para Gaza é uma questão complicada e as negociações são mediadas pelo Catar.
Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, disse na segunda-feira que existe a possibilidade de um acordo para a libertação de 100 reféns israelenses em troca de 200 menores de idade e 75 mulheres palestinas que estão nas prisões israelenses.
Em Israel, os parentes dos sequestrados iniciaram nesta terça-feira uma marcha de cinco dias, de Tel Aviv a Jerusalém, para exigir um acordo.
Israel confirmou nesta terça-feira a morte de Noa Marciano, uma soldado de 19 anos mantida refém pelo Hamas em Gaza, um dia depois de o movimento islamista ter afirmado que a mulher morreu em um bombardeio israelense.
O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, disse que os soldados "encontraram indícios" de que reféns israelenses detidos pelo Hamas estavam escondidos no porão do hospital pediátrico Al Rantissi, em Gaza.
A polícia israelense anunciou nesta terça-feira que está investigando acusações de que combatentes do Hamas cometeram violência sexual durante o ataque.
- Hamas "perdeu o controle em Gaza" -
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que o Hamas "perdeu o controle em Gaza" e que seus combatentes estavam "fugindo para o sul".
Nesta terça-feria, o Exército israelense anunciou que assumiu o controle dos edifícios do governo do Hamas em Gaza, incluindo o Parlamento e o complexo da polícia.
A guerra em Gaza alimentou a violência em outras frentes, na Cisjordânia, Líbano e Síria, e crescem os receios de uma escalada do conflito.
Na Cisjordânia, oito palestinos morreram em confrontos com tropas israelenses, informaram nesta terça-feira as autoridades palestinas, que calculam que desde o início da guerra pelo menos 180 palestinos morreram por disparos de soldados ou colonos israelenses.
J.Williams--AMWN