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Argentina vota para presidente em eleição decisiva para tentar superar crise
Os argentinos compareciam às urnas neste domingo (22) para escolher em quem confiam para tirar o país da crise econômica: o disruptivo antissistema Javier Milei, o peronista Sergio Massa ou a conservadora Patricia Bullrich.
Vestindo sua tradicional jaqueta de couro, Milei compareceu ao seu local de votação em Buenos Aires pouco depois do meio-dia (mesmo horário em Brasília), de onde saiu com enorme dificuldade, em meio a uma multidão fervorosa, que cantava "A casta tem medo", discurso que se tornou um símbolo de sua campanha.
"Estamos preparados para fazer o melhor governo da História", disse o candidato do partido Liberdade Avança, que completa 53 anos neste domingo.
Para o advogado Boris Morán, 34 anos, Milei é "uma opção diferente. Ainda que muitos o vejam como um salto no vazio, estamos olhando para alguém que, pelo menos, diz o que vai fazer e está contra algo contra o qual protestamos a vida toda e nunca mudou", declarou à AFP.
Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria (peronismo de centro-esquerda) votou pouco antes, acompanhado da mulher, Malena Galmarini, na cidade de Tigre, reduto do atual ministro da Economia, no norte de Buenos Aires.
"Hoje é um dia que nos obriga a trabalhar pensando na consolidação de 40 anos de democracia", afirmou após votar.
Patricia Bullrich, por sua vez, votou mais tarde, cercada de apoiadores. "O objetivo não é apenas estar no segundo turno, mas vencer as eleições", disse a candidata da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança.
Com uma taxa de inflação de quase 140% em 12 meses e um aumento do índice de pobreza, que afeta mais de 40% da população, os eleitores chegaram exaustos ao dia da eleição, que, pela primeira vez em três décadas, é disputada por três candidatos competitivos, em vez de apenas dois nomes das grandes forças políticas.
Catalina Escudero, uma professora de 36 anos que trabalha em uma das zonas eleitorais, confessou à AFP que não tinha esperança de "uma mudança mágica". "Espero que quem ganhe entenda que há 45 milhões de pessoas no barco e que não se pode fazer coisas malucas sem medir as consequências."
A votação começou às 8h e prosseguirá até as 18h(mesmo horário em Brasília).
- Força disruptiva -
"Precisamos de uma mudança. O país é um desastre. Na verdade, entre a pobreza e a inflação, as pessoas estão em má situação", declarou à AFP Gabriela Paperini, 57 anos, que trabalha como voluntária em um centro eleitoral de Buenos Aires.
Ela declarou seu voto em Patricia, mas disse que sua filha votará em Milei.
Com presença na política apenas desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei é o favorito nas pesquisas, depois de surpreender como candidato mais votado nas primárias de agosto.
"A força que surge como disruptiva é a que ficou em primeiro nas primárias e a que tem maior capacidade de crescimento", explicou à AFP Paola Zubán, diretora da consultoria Zubán, Córdoba e Associados.
Para vencer já neste domingo, um candidato precisa de 45% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos em relação ao segundo mais votado.
Supostas denúncias de fraude por parte de apoiadores de Milei circulam nas redes sociais, indicando falta de cédulas eleitorais nos centros de votação, ou que elas estão sendo destruídas por eleitores de outros candidatos.
O mesmo ocorreu durante as primárias. Dois dias antes da eleição, o próprio Milei denunciou a circulação de cédulas falsas com seu nome.
- Contra o status quo -
Milei pretende dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, reduzir drasticamente os gastos públicos, eliminar o Ministério da Mulher e revogar a lei de aborto, entre outras propostas. Seus adversários, entretanto, enfrentam dificuldade para atrair novos eleitores, considerando suas participações nos governos, que não conseguiram reverter a deterioração econômica do país – Patricia no Executivo de Mauricio Macri (2015-2019) e Massa na atual gestão, de Alberto Fernández (2019-2023).
Juan Negri, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, destaca que nem todos os eleitores de Milei são de extrema direita, "nem são todos favoráveis a dolarizar a economia ou a eliminar os subsídios. A adesão é mais uma declaração de princípios, com a qual afirmam que estão fartos da classe política".
Vivendo na terceira maior economia da América Latina, historicamente a sociedade argentina tem orgulho de sua ampla classe média. Porém, a economia não cresce há mais de uma década.
Em 2018, o país assinou um compromisso com o Fundo Monetário Internacional para um programa de crédito de 44 bilhões de dólares (R$ 160,8 bilhões, na cotação da época) que exige uma redução significativa do déficit fiscal.
Além da presidência, os argentinos também definem neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. As pesquisas indicam que nenhum partido conquistará a maioria parlamentar.
O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos. O país tem 35,8 milhões de eleitores registrados.
F.Bennett--AMWN