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Gabão em momento de incerteza após golpe militar que acabou com a dinastia Bongo
O Gabão estava em um cenário de incerteza nesta quinta-feira (31), sem indícios de quanto tempo vai durar a transição liderada pelo general Brice Oligui Nguema, após o golpe militar que acabou com a dinastia da família Bongo, que passou 55 anos no poder neste país africano.
O presidente Ali Bongo foi deposto na quarta-feira por integrantes do exército, pouco depois do anúncio por parte das autoridades eleitorais de sua reeleição para um terceiro mandato - ele estava há 14 anos no poder.
O patriarca da família, Omar Bongo, governou o país rico em petróleo da África Central por mais de 41 anos.
Em meio a cenas de comemoração, os militares nomearam como líder da "transição" o general Brice Oligui Nguema, comandante da guarda republicana, uma unidade de elite do exército.
O tempo de duração da transição não foi divulgado.
Os militares restabeleceram o acesso à internet e as transmissões de três grandes emissoras que haviam sido suspensas no sábado pelo governo de Bongo.
Porém, o exército decidiu manter o toque de recolher noturno, com alegação de que pretende "manter a calma e a serenidade", assim como as fronteiras fechadas.
Mas os gabonenses e a comunidade internacional aguardam detalhes sobre o período que os militares pretendem permanecer à frente do governo e como acontecerá o retorno a um governo civil.
- Situação de Bongo -
Outro tema pendente é o futuro de Ali Bongo.
O presidente deposto foi eleito pela primeira vez em 2009, após a morte de seu pai, que teria acumulado uma fortuna com a riqueza petrolífera do Gabão.
Ele foi reeleito em 2016, em uma votação muito contestada, antes de sofrer uma parada cardíaca em 2018, o que enfraqueceu o seu poder.
Os golpistas anunciaram que Bongo estava sob prisão domiciliar "ao lado da família e de seus médicos".
Um de seus filhos, Noureddin Bongo Valentin, foi detido e acusado de "alta traição".
Também foram detidos outros funcionários de alto escalão do regime, conselheiros da presidência e os dois principais dirigentes do poderoso Partido Democrático Gabonense (PDG), acusados de traição, fraude, corrupção e falsificação da assinatura do presidente.
- "Irregularidades" -
O golpe aconteceu poucas horas após o anúncio de Bongo como vencedor das eleições de sábado passado, com 64,27% dos votos.
A votação, condenada pela oposição como fraudulenta, foi anulada pelos militares.
Mas o golpe foi condenado pela União Africana (UA), em um continente onde as Forças Armadas tomaram o poder em outros cinco países desde 2020.
Porém, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, expressou cautela ao destacar que os militares atuaram após uma eleição injusta.
"Naturalmente, os golpes militares não são a solução, mas não devemos esquecer que o Gabão teve eleições repletas de irregularidades", declarou Borrell.
"O país enfrenta uma séria crise institucional, política, econômica e social", afirmaram os militares ao anunciar na televisão a anulação das eleições e a dissolução das instituições.
- Preocupação internacional -
Nas ruas da capital e no centro econômico de Port-Gentil, muitos moradores celebraram o golpe na quarta-feira.
Em Libreville, várias pessoas gritaram "Bongo fora" e aplaudiram os policiais nas ruas.
A ONU condenou o golpe e pediu aos militares que garantam a segurança de Bongo e sua família.
O Departamento de Estado americano afirmou que está "profundamente preocupado" e que é "veementemente contrário aos golpes militares", ao mesmo tempo que questionou a "falta de transparência e os relatos de irregularidades nas eleições".
A eleição de sábado aconteceu sem a presença de observadores internacionais. A organização Repórteres Sem Fronteiras denunciou que jornalistas estrangeiros enfrentaram restrições para cobrir as eleições.
Desde 2020 aconteceram golpes militares no Mali, Guiné, Sudão, Burkina Faso e Níger.
Ch.Havering--AMWN