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Chile confirma voo de repatriação de venezuelanos retidos na fronteira com o Peru
Na madrugada chegará ao Chile o primeiro avião para um voo de repatriação de migrantes venezuelanos retidos na fronteira com o Peru, que tentam há semanas deixar o país após o endurecimento dos controles migratórios, ainda que nem todos queiram voltar para a Venezuela.
O avião será enviado pelo governo venezuelano e pousará na cidade de Arica, 2.000 km ao norte de Santiago. A aeronave vai recolher migrantes que aguardam do lado chileno na passagem fronteiriça de Chacalluta e outro grupo que está na cidade peruana de Tacna.
"Quero confirmar a chegada de um avião venezuelano ao aeroporto de Arica para recolher um grupo bastante importante de migrantes que estão justamente bloqueados na fronteira", disse a jornalistas, em Santiago, o chanceler chileno, Alberto van Klaveren, nesta quinta-feira (4).
A operação será realizada por uma companhia aérea privada e não pela empresa pública venezuelana Conviasa e faz parte do programa "Retorno à Pátria", impulsionado pelo governo da Venezuela, de acordo com as autoridades locais.
"É um primeiro voo, esperamos que em breve possa haver mais, mas é algo que teremos que conversar com nossa contraparte venezuelana", acrescentou o chanceler chileno, ressaltando, ainda, "a boa disposição do governo venezuelano para buscar soluções para o problema dos migrantes que estão na fronteira norte".
- "Meu destino é outro" -
Na passagem fronteiriça de Chacalluta, o anúncio da chegada do avião foi recebido com ceticismo entre os venezuelanos. Muitos deles não querem voltar para o seu país, mas sim emigrar para outro destino. Também há colombianos e haitianos, para quem, no entanto, não há outra solução.
"Falam de um voo humanitário para a Venezuela, mas, para mim, não serve um voo humanitário, porque eu vou para os Estados Unidos. Ir para a Venezuela significa que podem danificar os meus documentos, podem cercear os meus direitos porque quando alguém chega lá, essa pessoa é um traidor da pátria", relata na fronteira venezuelana Mariol Ramírez, de 50 anos, que trabalhava como faxineira em Santiago.
"Meu destino é outro, não posso ir obrigada, a estar lá para morrer de fome na Venezuela. Estou fora do meu país justamente para isso, para ajudar a minha família e seguir adiante", disse à AFP.
Mas também há aqueles que se cansaram por não conseguirem os papéis para poder trabalhar legalmente no Chile e querem voltar para a Venezuela, especialmente para reencontrar suas famílias.
"Nunca fui preso no meu país e nem aqui, vou preso por trabalhar ou simplesmente porque não tenho papéis? Não é lógico. Então, decidi voltar para a Venezuela", assegura Edumar Briceño, de 50 anos, que há dois anos não vê sua esposa e nem sua filha que ficaram na Venezuela.
- Avanço importante -
Há mais de duas semanas, centenas de migrantes, principalmente venezuelanos, permanecem na fronteira norte após deixarem o Chile depois do endurecimento dos controles migratórios no país.
O Peru impede sua passagem, alegando falta de documentação. O país decretou também estado de emergência por 60 dias em suas fronteiras e ordenou o envio de militares para reforçar a vigilância e enfrentar a insegurança associada a estrangeiros, segundo a presidente Dina Boluarte.
O Chile já havia militarizado sua fronteira norte na tentativa de controlar a entrada irregular de migrantes. Adicionalmente, o Congresso aprovou leis que endurecem o controle migratório, como uma que ordena a detenção de quem não tenha documentação e outra que estende o prazo da detenção para poder gerenciar a expulsão.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), diariamente concentram-se, em média, entre 150 e 200 migrantes nas fronteiras entre Chile e Peru.
Diante do bloqueio das autoridades peruanas, alguns cruzaram passagens irregulares para a cidade fronteiriça peruana de Tacna e outros se instalaram do lado chileno, na cidade de Arica.
"Acredito que é um avanço importante que permite enfrentar adequadamente este problema humanitário", afirmou o diplomata chileno.
O.Karlsson--AMWN